A Secretaria Municipal de Trabalho e Assistência Social (Semtas) e a Faculdade de Ciências, Cultura e Extensão do Rio Grande do Norte (FACEX), através de um Termo de Cooperação Técnica, divulgaram na última semana os resultados da pesquisa intitulada “Moradores de Rua em Natal: quem são e como vivem”, que analisou o perfil das pessoas adultas em situação de rua na cidade do Natal.
“O resultado da pesquisa facilitará os encaminhamentos à rede da assistência social, como o Bolsa Família, Benefício de Prestação Continuada, Carteira do Idoso, dentre outros. Agora poderemos implementar ainda mais as ações de assistência social para promover a inclusão social desses sujeitos, uma vez que já sabemos quem são as pessoas em situação de rua. Vamos focar nossa atuação através do Centro de Referência Especializada em Assistência Social Para a População em Situação de Rua (CREPOP) e do Albergue Municipal”, declara Verônica Dantas, secretária adjunta da assistência social (Semtas).
A pesquisa identificou e cadastrou 78 pessoas que vivem hoje em Natal em situação de rua, sendo 82% do sexo masculino e com faixa etária predominante entre 18 e 40 anos, totalizando 60% dos entrevistados, que deveriam estar economicamente ativos.
“Percebemos uma relação tímida com a escola, que geralmente não chegaram a freqüentar, ou quando o fizeram, foram expulsos ou se evadiram, fosse pela dificuldade de aprender ou de se submeter às normas institucionais, ou mesmo para ajudar no sustento da família”, destacam no relatório final as pesquisadoras Iza Cristina Leal Bezerra do Amaral e Maria Alaíde De Oliveira.
Dos que freqüentaram a escola, 40% possuem o ensino fundamental I incompleto, 21% tem o ensino fundamental I completo, 23% nunca foi à escola. 64% deles declararam que sabe ler e escrever e 22% conseguem escrever o próprio nome, apenas; 14% são analfabetos. “Com esses dados fica mais fácil compreender as suas dificuldades de acesso à profissionalização, ao trabalho formal, e por conseguinte, a uma renda mínima”, declara a pesquisadora.
Dos entrevistados, 73% têm uma profissão. Dentre as profissões mencionadas, predominam aquelas relacionadas à construção civil. As pessoas em situação de rua enfrentam maior dificuldade de conseguir uma vaga, inclusive pela falta de endereço. Embora muitos tenham declarado possuir profissão, o dado é exatamente o inverso quando indagados se exercem essa profissão.
O modo de sobreviver está predominantemente ligado aos bicos, favores, às atividades ilícitas, como furtos e roubos; e às vezes, à mendicância. Porém, essas últimas atividades são mencionadas com pouca incidência, e, segundo eles, são praticadas somente em casos extremos.
Considerando o motivo pelo qual foi para a rua, 36% declaram razões envolvendo a família: desavenças ou “problemas” familiares, morte da mãe e conseqüente abandono ou expulsão por parte dos demais membros da família.
Os dados mostraram ainda que 23% dos entrevistados estão nas ruas de Natal há um período que varia de 11 a 15 anos. 21% estão entre 01 e 03 anos; 12% estão entre 04 e 06 anos; 7% de 16 a 20 anos; 6% estão nas ruas há um período de 21 a 30 anos.
Ao serem questionados, 55% afirmaram ter sofrido algum tipo de violência na rua, como xingamentos, humilhações e a discriminação por parte de policiais, moradores das adjacências e transeuntes em geral. Os moradores de rua enfrentam a hostilidade de seus pares, na luta pela demarcação de território; da polícia, que os fazem dispersar e destroem ou inutilizam seus pertences; dos moradores dos lugares em torno de onde ficam (principalmente onde dormem).
Em alguns casos, essas pessoas ficam sozinhas e à noite se agregam para dormir. Eles ocupam, então, as praças, as calçadas, marquises, etc. De um modo ou de outro, tornaram a rua sua casa. E a partir dessa representação do espaço público, vivenciam o dia-a-dia alheios à rotina da cidade
Em relação às atividades diárias, trabalham principalmente lavando vidros ou vendendo frutas, doces ou bugigangas nos cruzamentos mais movimentados; lavam suas roupas e tomam banho nas praças ou onde há “canos vazando”; Fazem suas necessidades nos canteiros, praças ou recantos dos muros; e praticam relações sexuais nos mesmos locais quando não conseguem dinheiro para “um quartinho”.
Há um destaque para as drogas lícitas, mas também um número significativo dos que declaram o uso e a dependência de substâncias ilícitas, especialmente a maconha e o crack.
Saiba mais sobre a pesquisa
“A pesquisa foi realizada em Natal no período de março de 2011 a janeiro de 2012. O grande objetivo foi o de contribuir com dados que ajudem a propor ações para a população mais vulnerável.”, declara Verônica Dantas, secretária adjunta da Assistência Social da Semtas.
A pesquisa foi realizada pelos educadores sociais dos Centros de Referência Especializados de Assistência Social (CREAS) e pelos alunos bolsistas de iniciação científica e do curso de serviço social da FACEX.
O mapeamento da população de rua foi realizado nas quatro regiões administrativas da cidade, principalmente nos pontos de maior circulação, tomando por base os dados e informações repassados pelos Centros de Referência Especializados de Assistência Social (CREAS).