Nesta quarta-feira (6), aconteceu a abertura da “Mostra CECCO – A arte vence o manicômio”, exposição com o intuito de celebrar a arte e o cuidado em liberdade para os convivas do Centro de Convivência e Cultura de Natal (CECCO). A Mostra acontece entre os dias 6 e 8 de dezembro na Fundação Cultural Capitania das Artes.

O primeiro dia do evento foi marcado pela vernissage da exposição, contando a apresentação do grupo de dança criativa do Centro, além de cortejo de percussão, declamação de poesias e entrega de certificados para os artistas que estão expondo durante os dias do evento.


Em seu discurso de abertura, o coordenador de saúde mental do município, Luís Fernando Pires dos Santos, falou sobre a importância do evento. “Só sabe o quão é importante o afeto, o abraço, o olhar sem preconceito, nós que fazemos saúde mental diariamente e temos na nossa casa os portadores desse diagnóstico. Então é assim que fazemos a diferença, e acreditamos muito nesse trabalho. Quero parabenizar a todos, e vamos começar um evento que vai perdurar durante três dias e que será, com certeza, um sucesso, porque a vamos fazer a saúde mental e transformar a psicofobia em amor, empatia e zelo ao próximo”.


A exposição conta com o material desenvolvido pelos convivas (como são chamados os frequentadores do CECCO) ao longo dos seis anos de existência do serviço, e inclui também material do acervo antigo Ambulatório de Saúde Mental, serviço predecessor ao Centro.


“Queremos mostrar que o CECCO não é um espaço do louco, e sim um espaço da arte, da cultura, do lazer e do cidadão, e a grande pegada da Mostra é expor esse potencial e fazer essa intervenção na cidade. Só de levarmos esses trabalhos que estão aqui presos para um espaço, uma galeria, já têm um peso, tanto para eles de se verem reconhecidos como artistas, como também para a cidade como um todo, por poder prestar mais atenção na potência que é esse serviço”, comenta Natália Campos, Coordenadora do CECCO Natal, sobre a ideia de desenvolvimento da ação.


A Mostra tem também a dimensão sociocultural, com o intuito de aproximar e mudar a forma com que a sociedade lida com a loucura, principalmente após a reforma psiquiátrica, que visa substituir o tratamento centrado em internações em hospitais psiquiátricos por um cuidado mais humanizado, de reinserção territorial e cultural dos convivas na comunidade.


“As obras apresentam muitos elementos que falam de pessoas que passaram por esse histórico em instituições manicomiais e das violências que sofriam nestes locais, e de como eles foram conseguindo superar essas violações de direito e transformando isso em arte. Então, esses trabalhos têm uma riqueza muito grande que entendemos que não pode ficar aqui presa, assim como entendemos que a loucura não pode ficar presa, então é importante construir esses momentos, esses espaços e ocupar a cidade”, reforça Júlia Shenkel, psicóloga, diretora da Residência Terapêutica Oeste e uma das curadoras da Mostra.


Localizado na avenida Capitão Mor Gouveia, 1214, o Centro de Convivência e Cultura (CECCO) desenvolve um trabalho artístico-pedagógico aberto para todas as pessoas que queiram participar das suas atividades. “É importante ressaltar que o Centro não é um serviço exclusivo de saúde mental, nossa intenção é que ele possa ser frequentado por diversas pessoas que tenham interesse nas atividades artísticas, porque isso também nos ajuda a romper preconceitos, quando temos um serviço que não está fechado no campo da saúde mental”, reforça Júlia.


“Estamos ultrapassando a linha da doença mental. Esse é um momento de reflexão, de transformação, do ato de permitir sermos além de uma doença, de um preconceito, ser além do amarrar, do furar, e aqui no CECCO somos livres. Então é importante mostrar a cor e o sabor das tintas.”, comenta Luiglen Fagundes, artista visual autodidata, pintora e artesã, uma das convivas em destaque na Mostra, que inclui em suas obras pinturas estilizadas de mulheres negras, feitas como forma de expressar aquilo que não consegue dizer com palavras.


Mostra CECCO – A arte vence o manicômio

Na quinta-feira (7), acontece a exposição dos trabalhos artísticos, das 8h às 9h, seguido de apresentação de dança ao longo do dia. No último dia da mostra, sexta-feira (8), a programação começa às 10h, com a reprodução do curta-metragem “Enfim Livres” dirigido pela conviva Katyane Nascimento (Katplayer). A tarde a programação cultural, apresentações teatrais e Finissage da exposição às 15h.


Organizada por Julia Schenkel, Natália Campos, Roxane Sales, Jennifer Katarina, a Mostra CECCO – A arte vence o manicômio é uma realização do CECCO NATAL, IFRN-Centro Histórico e Grupo de Pesquisa Gentileza/UFRN. Conta com colaboração de Lenilton Teixeira, Kimi Han e César Filho, KurtanaKombi; e com o apoio da Prefeitura do Natal, Secretaria Municipal de Saúde, Secretaria Municipal de Cultura, Funcarte e Escola de Saúde UFRN.