No cenário da unidade de saúde, objetos afetivos (que lembram histórias e fatos vividos) são expostos em uma grande mesa. As cadeiras são postas em círculo, mas uma delas, a cadeira de balanço, é colocada ao lado da mesa e coberta por uma manta que vai aquecer os narradores. Cada convidado traz seu objeto ou escolhe um dentre os que estão sobre a mesa, senta na cadeira de balanço e conta um pouco da sua história. A única regra é escutar; é ficar em silêncio e respeitar a voz do outro. Nos intervalos das narrativas, canções antigas são tocadas no violão pelo dentista da equipe e acompanhadas pelas vozes das pessoas sentadas em volta.

Assim acontece a Tenda do Conto, uma prática de compartilhamento de histórias de vida que teve origem nas Unidades de saúde do Panatis e Soledade I, na zona norte nesta sexta-feira (10), na Unidade do Panatis a partir das 8h30, usuários e trabalhadores do SUS para comemorar sete anos de existência. As duas unidades de saúde são mantidas pela Prefeitura do Natal, por meio da Secretaria Municipal de Saúde.

A experiência da Tenda do Conto de Natal que vem sendo replicada no Amazonas, Aracaju, Pernambuco e Ceará, recebeu menção honrosa no Seminário Nacional de Humanização ocorrido em Brasília em 2009 e é reconhecida pela Política Nacional de Humanização do Ministério da Saúde como um modo de fazer saúde que proporciona outro olhar para a dor humana valorizando saberes diversos e rompendo com os modos protocolares e frios de produzir saúde.

Nos sete anos de existência, 130 tendas do conto foram montadas e inúmeros narradores ouvidos em Seminários, eventos, hospitais, praças, universidades, cursos de formação de trabalhadores de saúde, fóruns de Educação popular, entre outros.

Na Tenda do Conto, o cenário lembra um alpendre, gente reunida para contar suas vidas, angústias, perdas, superações, alegrias. Uma casa, uma cadeira de balanço onde o tempo corre mais suavemente, sem pressa, um tempo de escuta, um tempo de cada um.

Segundo Jacqueline Abrantes Gadelha, idealizadora do projeto, a Tenda do Conto “é um exercício de respeito à vida que passa pelo respeito às singularidades, pois não há uma vida igual à outra. As pessoas trazem manifestações de arte e beleza: canções esquecidas, poesias, histórias de um passado desconhecido, às vezes esquecido. Este desfrutar das companhias nos proporciona um olhar que, em geral, não existe no cotidiano do trabalho em saúde; são histórias de pessoas anônimas muitas vezes depreciadas pelos saberes científicos. As narrativas nos permitem exercitar um modo de ver a vida pelos olhos do outro; ver a dor humana, conceber este humano e sonhar com outro mundo possível.” E acrescenta: “São modos de produção de saúde pautados na construção de vínculos, de produção de sentidos, de cultivo das sensibilidades e da solidariedade; de afirmação da vida.”


A equipe, também formada por Maria de Lourdes Freitas, enfermeira, Marta Farias, dentista, Josefa Barros e Lucinalva Rodrigues, conquistou a adesão de outros profissionais de saúde como Françuise Gonçalves, Francisca Divina, Ivana, Luna Mar, Evanilde Dantas (Agentes Comunitárias de saúde) e muitos profissionais da unidade de Soledade I e usuários do SUS que se somam e comemoram com alegria os sete anos com mais uma roda de histórias que na Unidade de saúde do Panatis.