Mediada pelo presidente da Fundação Cultural Capitania das Artes (Funcarte), Dácio Galvão, a segunda mesa do último dia do Festival Literário de Natal (Flin) versou sobre o tema “A poesia na canção, a canção na poesia”. O poeta Eucanaã Ferraz disse que começou a publicar na década de 1990. Ele comentou que teve a grande sorte de ler poetas estrangeiros e ter a mãe que cantava para seu deleite. “Assim que saía um disco do Caetano o mundo ficava melhor. Eu ficava emocionado”, contou.

Ressaltou que quando ouviu a música “O estrangeiro”, de Caetano, foi um aprendizado. Disse que todo mundo depois de ouvir os baluartes da MPB não ficam imunes: ”Era um privilégio”,

Em seguida, Caetano Veloso fez sua participação inteligente no debate. Ele disse que para a geração dele, Vinícius de Morais foi um divisor de águas. O primeiro contato com a obra do Poetinha foi a peça “Orfeu da Conceição”. A partir daí, procurou conhecer a obra poético-musical de Vinícius: “Pensei que Vinícius de Morais fosse negro. Confundia Vinícius com Haroldo Costa”, assinalou.

Caetano citou, ainda, a obra de Lou Reed, morto há poucos dias, destacando que Reed citava nos shows William Shakespeare, Lord Byron e Edgar Allan Poe. “Rock era coisa de subúrbio e de gente ignorante até os Beatles aparecerem”, disparou. Disse que quando começou a fazer as canções já conhecia a obra poética de Vinícius, além de Carlos Drummond, Cecília Meireles e Manoel Bandeira. “A demarcação entre a música popular e a erudita foi irrelevante para a minha geração”, observou.

Para Caetano, o artista pop de vanguarda, Andy Warhol, quebrou o gelo entre a pop-art e os museus sofisticados. “Os Beatles deram uma virada. Eram muito sofisticados. Gil me chamou a atenção para os Beatles e a Betânia para o Roberto Carlos”, informou.

Na sua opinião, Oswald de Andrade precedeu Marshall McLuhan e Andy Warhol. Lembrou que musicou o poema “Escapulário”, de Oswald de Andrade, além dos irmãos Augusto (“Pulsar”) e Haroldo de Campos (“Circuladô de Fulô”).

Respondendo a platéia, Caetano disse que Nara Leão foi uma figura histórica de enorme importância para a música brasileira. Confessou que foi influenciado por poesia e ensaio, na infância. Só depois passou a gostar do romance.

Ao final, Eucanaã Ferraz recitou letras de Caetano (“Itapoã)”, e o compositor baiano, por sua vez, leu poemas de Eucanaã, do livro “Sentimental”.