Exímio dominador de sons, batuques e ritmos, com “internacional” pernambucano Naná Vasconcelos trouxe seu talento a Natal, em duo com o multi-instrumentista Lui Coimbra. E faltou cadeira para o público presente à tenda literária do Festival no fim da noite desta sexta-feira. Gente sentada no chão, em frente ao palco para uma aula espetáculo regado a música e à poesia de Mário Quintana.
Um vídeo foi iniciado com a tenda ainda escura. Vídeo com 30 crianças vindas de Angola, outras 30 de Portugal e mais 60 de Brasília. Naná organizou um projeto social com essas crianças e produziu um concerto chamado “Língua Mãe”. “Minha ideia com esse projeto é provocar o ensino da música nas escolas. Musica educa, mexe com emoções”, disse depois.
Fim do vídeo e Naná entrou no palco tocando berimbau, acompanhado de Lui Coimbra ao banjo. Música angolana. Canto e solos instrumentais performáticos. Nas mãos de Naná, o berimbau ganhou mil vozes e sons. Na canção seguinte, sons de mares e floresta, de nativos, e Lui Coimbra ao violoncelo e ao microfone, com o refrão: “Tem um paquete bonito no mar”.
O soneto de Mário Quintana, chamado Astrologia, e musicado por Lui Coimbra foi o número musical da sequência. O músico tomou o palco ainda, sozinho, para interpretar Zeca Baleiro, “poeta contemporâneo” – ambos de timbres graves parecidos – com música incidental do Rappa, até Naná voltar ao palco para mais experimentações sonoras e canções de exaltação ao “Recife nagô”.
“Essa é minha forma de fazer poesia. Eu não canto. Ando por aí dando meus gritos e falando da beleza do nosso país. Falo muito do Amazonas, que é um conservatório de vidas. Quando chove é o encontro das águas. Eu sempre quis traduzir o som da natureza para na minha percussão, como o som da chuva na selva. Uma composição contemporânea; uma experiência orgânica”, e provoca a platéia e emitir sons e imitar sons de rio.
Lui Coimbra remonta a interpretação de sonetos de Quintana, com `O idiota desta aldeia,` presente no livro A Rua dos Cataventos, com o luxuoso arranjo de Naná, no atabaque. Em seguida, música de Elomar Figueira de Melo, com riffs e execução virtuosa de Lui Coimbra ao violão e Naná no tambor.
Naná retoma o microfone para cantar os aboios da herança judaica nordestina. Sons de gado e violoncelo se espalham pela tenda. Pareciam vários no palco. Microfones mergulhados em efeitos. Troca de instrumentos. Vozes e mais vozes: Do regionalismo. Do Cariri. Do Sertão de Arco Verde. Dos quilombos de nunca mais. Dos sertões da alma. Rabeca e caxixi ritmados pelas palmas do público. Mestre da percussão e das cordas em duelos instrumentais. Fim. E o público bate palma de pé.